De repente outra noite quente,
De repente uma brisa, seu perfume ausente,
De repente o mesmo pensamento persistente,
De repente um choro latente,
De repente amo-te sempre.

Depois de uma tentativa frustrada de esvaziar a mente ela ficou mais ativa.
Aqui perto do escritório tem um poste carregado de anúncios do tipo lambe-lambe de uma vidente chamada Mãe Eulália. Todos os dias, repetidamente passo diante desse poste com esse anúncio.

Resolvi por a prova a figura ilustre do cartaz, Mãe Eulália.
Disquei o número do anúncio e quando atendeu:

- Alô? Mãe Eulália?
- É. Quem é?
- Advinha!

Desliguei.

O que pode acontecer depois de um dia inteiro de tanto trabalho? Aquele dia doido, onde tudo acontece; clientes que nunca ligaram começam a ligar e pedem milhares de arquivos que obviamente não vão usar, me fazem desenterrar backups do além, e depois tem o trabalho ?in-line? com prazo para ontem... caramba e depois que tudo isso passa, você vai e arruma mais um caminhão de coisas para continuar a fazer. É, eu faço isso.


Num dia desses fiquei realmente cansado. Não enxergava nada, estava caindo no teclado, semi-vivo. (que deve ser o mesmo que semi-morto, mas é menos pesado).


E foi travando uma conversa no MSN sobre o hiperativismo nosso de cada dia, durante toda a semana, que começou o assunto de meditação. Tentamos entender como funciona a mente de pessoas que meditam para tê-la vazia. Deve ser impossível.


Talvez não fosse.
Fiz umas pesquisas, achei uma porção de material, descobri várias correntes, teses e até suplementos médicos, estes desmentiam todo o resto. Oras. E agora? Será uma farsa?


Continuei a pesquisar, aproximava-me cada vez mais do improvável, enquanto alguns defendiam veemente a forma de meditação, esvaziar a mente, não permitir que nenhum pensamento lhe tome a consciência, estes mesmos descreviam a experiência, e aí a minha pergunta: com a mente vazia ele se lembra do que houve e do que sentia? (ops, a pergunta proibida, estou exercitando o oposto do propósito: pensando. Cara! Que confuso).


Não vou desistir tão fácil assim. Isto já está me tomando um tempo que não tenho, com tanta coisa para fazer, resolver, decidir, para não dizer: pensar.


Pronto. Acho que juntei tudo que precisava.
Tudo que tenho que fazer e estar aqui neste lugar e em total silêncio - estou no quarto.
Um relógio para ver a hora, e estou confortável - vou resumir - aqui diz para verificar a hora num relógio, fechar os olhos e esvaziar a mente e, ao menor sinal de pensamento você abre os olhos e verifica quanto tempo ficou com a mente vazia (mas como você vai saber em que h... pára! Não pergunte). Ok!


Olho o relógio e fecho os olhos. ... ... ... ... ... Opa! um pensamento. Abro os olhos e... ãn?
O ponteiro nem mexeu... sou um fiasco. Não sei meditar.

"Se arrependimento matasse", quem nunca ouviu? E quem nunca disse?


O arrependimento deve ser uma pessoa, não é possível.
Sabe quando você dá aquela pisada na bola, faz uma puta duma besteira, e tem vontade de se bater por ter sido tão idiota? Aí ele aparece, o Sr. Arrependimento.
É o sujeito mais traiçoeiro e ainda é surdo. Pedi que me matasse uma centena de vezes.


Depois descobri sua face cruel.
Ele não vai me matar, vai fazer muito pior que isso, vai me deixar vivinho, e assim, minha alma vai se consumindo, queimando, vai ferver de tanto ódio e fazer com que eu fique amuado.


Acordo e durmo com as afrontas dele. Ele vai me fazer acreditar que casei com ele. Ele está nas minhas roupas, no telefone e nos programas de TV. Vai aparecer nas músicas e vai me surpreender enquanto salvo aquele arquivo do PhotoShop de 86MB. Estúpido.


Até que mais tarde:

- Sr. Arrependimento. Vai continuar por muito tempo aqui?
- A decisão é sua, você me chamou.
- Eu?
- Quem está arrependido é você. Estou certo?