22.4.06

Viciei com a primeira dose

O dia estava quente quando fechei a porta do escritório para ir almoçar. Hoje o almoço é no shopping Ibirapuera. Combinei com a bela moça que me esperasse na praça em frente a Livraria Saraiva. Sim, realmente o local é distante da Praça de alimentação do Shopping mas era uma mania durante a faculdade o único ponto que todos conheciam, não havia erro na hora de marcar algum encontro no Shopping Ibirapuera, e desta vez não seria diferente.


Atravessei sem pressa os oito quarteirões que separam meu escritório do Shopping, o calor aumentou bastante, tentei firmar alguns pensamentos que me perturbavam, algumas questões na minha cabeça imploravam por uma solução, parece que eu disfarçava pra mim mesmo e tentava fugir do assunto. A verdade é que eu estava tenso. Seria mesmo só mais um almoço? O calor fritou todas essas questões no meu cérebro e elas ficaram como um bife velho esquecido no fundo de uma panela suja.


Quando entrei no Shopping, esperava ser salvo pelo ar condicionado mas a temperatura do meu corpo somava-se a cada lance de escadas que eu subia, ao ponto de precisar fazer uma pausa, entrar no banheiro masculino, jogar uma água no rosto olhar no espelho e fazer uma pergunta. O problema é que na hora do almoço, o banheiro não é o lugar mais tranqüilo para se fazer isso, a pergunta fica para depois. Essa pergunta talvez fosse o único pensamento a ocupar minha mente durante o percurso. É. Era mesmo. E teria mesmo que ficar para depois.


O último lance de escadas foi vencido e eu desacelerei, por um momento apenas, quando me dei conta, já tinha avistado a mulher que me esperava. Sentada no banco de madeira bem discreta: calça Jeans e uma blusa preta sem mangas. Respirei o mais fundo que fui capaz, voltei meu passo na velocidade habitual e não tirei os óculos escuros, de propósito. Já a poucos metros ela me viu e eu notei um leve desajeito, um movimento sutil e estranho, como se de repente o banco de madeira alterasse sua dimensão no espaço e ela perdesse o equilíbrio mesmo estando sentada e no outro instante tudo estava normal, uma fração, tão depressa quanto uma rápida piscada.


Aproximei-me pelo lado direito dela, estendi a mão para que ela se levantasse, ela segurou e levantou - e juro: pensei que ela não terminaria de levantar, meus olhos acompanharam seu movimento e quando parei meus olhos fitavam para cima - ela agradeceu com um beijo no rosto e ao mesmo tempo foi um cumprimento.

- Chegou rápido - comentei.
- Tive sorte no trânsito.
- Bastante. - concordei - Vamos descer tudo, até a praça.
Como sempre, escolhemos a Viena Express para almoçar (a melhor opção em qualquer horário, e não estou ganhando nada com a propaganda.. rs). Durante o almoço nossa conversa permaneceu no campo da casualidade, falamos sobre família, relacionamento, trabalho, faculdade, dificuldade, tragédia e comédia e, a cada breve momento de silêncio nossos olhos se penetravam, querendo algo, os olhos pareciam lançar, talvez, uma pergunta fora do contexto. Sim, era isso. Simultaneamente eu tentava entender o que exatamente fazia ali. Talvez eu soubesse mas preferia não responder, novamente A Pergunta, porém, vamos deixar para depois. Nos olhos dela eu tentava ler as perguntas, tímidas até aquele momento, imaginei algo de bom mas sabia que seus questionamentos eram certamente perturbadores. Aquele almoço era a coisa mais inusitada que ela poderia fazer, uma loucura, um salto no escuro, uma atitude que eu, na posição dela, não teria... ou teria?


O almoço terminou e a conversa rendia já há duas horas, meu horário já havia expirado, deixei uma boa quantidade de jobs não terminados, todos tinham prazo para aquele dia. Eram anúncios para finalizar, sites para atualizar e uma série de coisas que agora já não fazem mais sentido.


As perguntas ocultas continuavam na mente. E ainda os olhares tentavam inutilmente decifrar.


Da mesa da praça de alimentação para uma minúscula mesa num café em outro ponto do shopping, o assunto deixou de ser o trivial e passou de forma suave para outro campo. As perguntas que os olhos buscavam no almoço, aos poucos a alma deixava escapar pela boca, mas ambos hesitavam e davam respostas cifradas, porém compreendidas. Infelizmente o tempo não estava do meu lado, era preciso partir, e o mais demorado café chegava ao fim.


O silêncio nos acompanhou por quase todo percurso, do último andar do shopping - onde fica o café - até o piso térreo. Mentalmente decidi que a acompanharia até o ponto, na Av, Ibirapuera, que a esta altura, explodia de tanta gente. Antes de alcançarmos a porta de saída do shopping ela rompeu o silêncio, questionou se depois daquela porta ela acordaria e voltaria para a realidade? Respondi que poderia continuar a sonhar até o ponto. As borboletas no estômago quase saíram em disparada.


Avenida Ibirapuera às 17hs é um caos: poluída e barulhenta. Uma multidão transita para todos os lados dando a impressão de que não sabem para onde vão, são milhares de rostos, tipos e formas e em todos os lados e direções. É hora de saída do batente de muita gente, a maioria domésticas, balconistas, atendentes e etc, a grande maioria são mulheres preocupadas em chegar com segurança em seu lar; umas pensam na comida que têm de preparar, outras estão querendo saber quem será o próximo par romântico da tevê e todas essas coisas importantes para se pensar no final do expediente; a atmosfera estava cheia desses pensamentos vazios, somado ao calor intenso e subtraindo de tudo isso a razão, o resultado será exatamente: nada.


Ali no ponto de ônibus numa frágil 'proteção' de metal que nos deixa a poucos centímetros dos carros e ônibus que andam em muita velocidade, um cenário nada romântico para o que ia acontecer, embora fosse a exata analogia de tudo que se passava na minha mente, um vendaval de questões, que vinham como aqueles carros apressados e imprudentes, minha mente parecia captar os pensamentos vazios e forçar a minha capacidade a entendê-los, como uma fuga da situação, uma espécie de inquisição interna que espremia a razão e a emoção, fazendo um mix que vai continuar sem uma definição clara.


E num instante que ser perdeu no tempo, aquele barulho todo já não estava lá, nem os ônibus, as pessoas e nem o calor. Na minha mente eu ouvia uma melodia desconhecida mas agradável, os pés não estavam no chão, os batimentos do coração atingiram uma velocidade nociva, e eu gostei. E como, inexplicavelmente aqueles lábios podem ser tão macios, gentis e ágeis, como? Envolventes como um abraço, uma fruta não catalogada, saborosa, especial e mágica, a pele lisa e tenra em condição exageradamente boa obrigava minhas mãos a envolvê-la com um carinhoso abraço e depois fazer minhas mãos alcançarem seu pescoço e ocultarem em seus cabelos atrás da nuca, e toda essa explosão de loucura me fazia desejá-la mais e mais.


Fui tomado por uma febre, e uma notável instabilidade no corpo dela foi o convite para segurá-la com mais força e também a senha para um novo beijo, mais intenso, que teve um efeito 'raquidiano' e letal.


Quando seu rosto se afastou do meu eu apenas contemplei, deixando que seus cabelos negros e longos cobrissem o rosto, preferi não interferir na ação do vento, apenas fiquei ali, deixando que todas as questões se transformassem num grande engarrafamento, um acidente fantástico de pura loucura, sem uma única dose de razão.


Tudo se tornou lento, muito lento, até concluir uma pausa no universo. Fitei seu rosto e não consegui definir uma expressão, se sorria ou se estava séria, ou se ainda estava anestesiada. Estava anestesiada.


Essa pausa duraria exatamente o tempo para que eu finalizasse um breve pensamento, no momento que minha mente foi levada para as lembranças da triunfal edição não publicada do Manual do Estúpido, que traz na página 79 uma lista de frases não recomendadas para se dizer em situações como esta. Umas das frases é uma pergunta, tão exatamente ridícula que ela vem marcada com um enorme asterisco, onde sua marcação contém severas recomendações dos editores alertando que a frase é tão radicalmente perigosa que nem ao menos deveria ser publicada, mas estava lá, infelizmente de forma acidental; e eu, na minha total falta de juízo pergunto: "E agora?" sim, "E agora?", a pergunta não recomendada, que deveria ser estripada do manual. E terminou a pausa no universo.


Suas mãos alcançaram meus ombros e deslizaram para trás do meu pescoço transformando o gesto num abraço carinhoso e confortável. Seu rosto tocou o meu suavemente enquanto dizia: "Vou falar uma coisa que não deveria". Se ela estava dizendo isso, ou ela tinha o mesmo manual, ou era a materialização da conseqüência relatada na página 81. Porque antes, exerci o relato na página 80, a Curiosidade: "Não segure, fale.", ela: "Quero ficar pra sempre com você".


Durante duas longas semanas, tudo que tentei foi exorcizar dois pensamentos incessantes. Um: Eu era a partir de agora O Outro, O Ricardão, ou o nome que isso tenha para a minha posição. Na qual, nesse eu resolvi deixar de lado. Mas o pensamento dois: Tô viciadão nesse beijo!
O Paciente apresentou quadro de delírio em 22.4.06
Receite um medicamento: 2    Envie esse post par e-mail.
10.4.06

Pisou na merda? Faça assim!

Sabe, é inacreditável a quantidade de merda de cão que há nesta cidade (São Paulo), o pior lugar então, é o bairro de Moema. Nunca vi um lugar com mais merda de cão por 'metro de calçada'. É tanta indignação que eu lanço aqui a campanha "Faça Assim"!!!

Faça Assim: Clique para ampliar

Afinal, o que é "Faça Assim"? Trata-se daquele lance de enganchar os dedos indicadores de cada mão e fazer um movimento com força tentando afastar as mãos sem soltar os dedos (veja foto acima), esse pequeno gesto mais simples que a idiota pomba-da-paz-no-peito, e por anos e anos omitido pelo Pai-Mei, é capaz de travar qualquer cão mal educado que tentar defecar na indefesa calçada!
Faça sua parte, Faça Assim!


E se você tem um cachorro, saia de casa com o seu saquinho!!!


E como já espero uns comentários do tipo: "olhe onde pisa", saiba que a Merda do bicho não brilha quando a rua está sem iluminação, que merda!
O Paciente apresentou quadro de delírio em 10.4.06
Receite um medicamento: 0    Envie esse post par e-mail.